domingo, novembro 27, 2011

Novembro, o mes da Umbanda.

O blog possui um numero grande de arquivos e achamos interessante compartilha-los com vocês. O texto a seguir é do Sacerdote Umbandista e Decano Pai Ronaldo Linhares, amigo pessoal de Zélio de Moraes e sua família. O texto foi publicado em Novembro de 2002 pelo Jornal da Umbanda Sagrada.


Dia Quinze de Novembro, Dia Nacional da Umbanda.


Negar que a Umbanda é uma religião de procedência negra, é mais um ato de racismo e descriminação histórica, não aceitando os fatos e o ensinamento de divindades fantásticas como o Caboclo das Sete Encruzilhadas, Pai Joaquim de Angola, Caboclo Pena Branca, Cabocla Jurema, Seu Zé Pilintra, Exu Tranca Ruas e outras centenas de divindades maravilhosas. N'Banda = Reunião Sagrada, palavra boniu, região onde está Angola, Moçambique, Guiné, divindades denominadas Pretos - Velhos, como; Vovó Maria Conga, Pai José de Aruanda, Pai Mané do Congo, etc. mas na Umbanda tem muitas histórias, todas veridicas, pois são inúmeros os fatos que comprovam sua voracidade. Em Osaco, região da Grande São Paulo, o Sr. Pedro Furlan, tomado pelo Caboclo Pena branca médium Zélio de Moraes, tomado pelo glorioso Caboclo das Sete Encruzilhadas, fundou outra forma de Umbanda que marcou profundamente na história desta epopéia religiosa brasiliana. Vamos conhecer um pouco desta história em texto reproduzido do Jornal da Umbanda Sagrada.


A HISTÓRIA DO CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS


    A primeira manifestação de Umbanda, sem influências kardecistas e nem de Candoblé, com registro documental é a do "Caboclo das Sete Encruzilhadas" em seu médium Zélio Fermandino de Moraes, em 15 de novembro de 1908. Assim como a "Tenda Nossa Senhora da Piedade" fundado por Zélio é o primeiro templo de Umbanda registrado no Brasil.
   Por isso os fatos que ali acontecem são de fundamental importância a todos nós, como fatos históricos que marcam profundamente o nascimento da Umbanda no plano material.
   Zélio Fermandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1892, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Filho de Joaquim Fermandino Costa (oficial da Marinha) e Leonor Moraes. Em 1908, aos 17 anos, Zélio havia concluído o curso propedêutico (ensino médio) e preparava-se para ingressar na escola Naval, a exemplo de seu pai, foi quando fatos estranhos começaram a acontecer na vida dele. Em alguns momentos Zélio era visto falando manso, com postura de um velho, em sotaque diferente de sua região, dizendo coisas aparentemente desconexas, em outros momentos parecia um felino lépido e desembaraçado, mostrando conhecer todos os mistérios da natureza. Isso logo chamou a atenção da família, preocupada com a situação mental do menino que se preparava para seguir carreira militar, os "ataques" se tornaram cada vez mais frequentes. Assim Zélio foi encaminhado a seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após vários dias de observação , não encontrando seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu a família que o encaminhasse a um padre, para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estava endemoniado.
   Foi chamado um outro parente, tio de Zélio, padre católico que realizou o dito exorcismo para livra-lo da possível presença do demônio e sana-lo dos ataques.
   No entanto este e outros dois exorcismos, acompanhados de outros sacerdotes católicos, não resolveram a situação e as manifestações prosseguiram. Algum tempo depois Zélio foi tomado por uma paralisia parcial, a qual os médicos não conseguiram entender. Um belo dia Zélio levanta-se de seu leito e diz " - Amanhã estarei curado" e no dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Um amigo sugeriu encaminha-lo a recém fundada Federação Kardecista de Niterói, município vizinho a São Gonçalo das Neves onde redidia a Família Morares. A Federação era então presidida pelo Sr. José de Sousa, chefe de um departamento da marinha chamado "Toque Toque". Zélio Fermandino de Moraes então foi conduzido a esta Federação no dia 15 de novembro de 1908,  na presença do Sr. José de Sousa, estava ele em meio aos ataques reconhecidos como manifestações mediúnicas. Convidado a sentar-se à mesa em seguida levantou-se, contrariando as normas do culto estabelecido pela instituição, afirmou que ali faltava uma flor. Foi até o jardim e apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Sr. José de Sousa, que possuía também a clarividência verificou a presença de um espirito manifestado através de Zélio e passou ao diálogo a seguir:


Sr. José: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.

Sr. José: Você se identifica como caboclo, mas vejo em você restos  de veste clericais.
O espírito: O que você vê em mim, são resto de uma existência anterior. Fui padre, meu nome ra Gabriel, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. mas em minha ultima existência fisica Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.

Sr. José: E qual é o seu nome?
O espírito: Se é preciso que eu tenha um, digam que sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda uma religião que harmonizará as famílias e que há de pendurar até o final dos séculos.


E no desenrolar da conversa, Sr. José pergunta ainda se já não existem religiões suficientes, fazendo inclusive menção ao espiritismo.


O espirito: Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, toso tornam-se iguais na morte, mas vocês homens não contes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte.
   Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra também trazem importantes mensagens do além. Porque o não aos caboclos e pretos-velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?... Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que quera ou precise se manisfestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos. "Nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos com aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas a nenhum diremos não, pois esta é à vontade do Pai."



Sr. José: E que nome darão a esta Igreja?
O espírito: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que Maria ampara nos braços o filho querido, também serão aparados os que se socorrerem na Umbanda.


No dia seguinte, na rua Floriano Peixoto, 30 - Neves - São Gonçalo - RJ, próximo das 20:00 horas estavam presentes membros da federação espirita, parentes, amigos, vizinho e uma multidão de desconhecidos e curiosos. Pontualmente as 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e com as palavras abaixo iniciou seu culto:


" - Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui incia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmão encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a características principal deste culto."


   Após trabalhar fazendo previsões, passe e doutrina informou que devia se retirar, pois outra entidade precisava se manisfestar.
   Após a subida do Caboclo, Zélio incorporou uma entidade reconhecida como "Preto-Velho", saindo da mesa se dirigiu a um canto da sala onde permaneceu agachado. Sendo questionado o porque de não ficar na mesa respondeu: " - Nego num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve arespeitá", após insistência ainda completou: " - Num corece preocupa não. Nego fica no toco que é lugar de nego." e assim continuo dizendo coisas mostrando a simplicidade, humildade e mansidão daquele que trazendo o estereótipo do Preto-Velho se fez identificar como Pai Antônio.
Logo cativou a todos com seu jeito, ainda lhe perguntaram se ele não aceitava nenhum agrado, ao que respondeu: " - Minha caximba, nego qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca." - Todos ficaram perplexos, estavam presenciando a solicitação doo primeiro elemento material da Umbanda. Na semana seguinte todos trouxeram cachimbos que sobraram diante da necessidade de apenas um para Pai Antônio.
   Assim o cachimbo foi instituído na linha de Pretos-Velhos, sendo também a primeira entidade a pedir uma guia (colar) de trabalho. Opai de Zélio frequentemente era abordado por pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo isso que vinha acontecendo em sua residência, sua resposta era sempre a mesma em tom de brincadeira, respondia que preferia um filho médium ao lugar de um filho louco. Foi um trabalho árduo e incessante para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Enquanto Zélio esteve encarnado foram fundadas mais de 10.000 tendas. Após 55 anos de atividade entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia e Zlméia. Mais tarde junto com sua esposa Maria Izabel de Moraes, médium ativa da tenda e aparelho do Caboclo Roxo fundaram a Cabana de Pai Antônio no distrito de Cachoeira do Macau - RJ.
   Zélio Fermandino de Moraes desencarnou no dia 03 de outubro de 1975.
   Suas filhas deram continuidade ao trabalho e a "Tenda Nossa Senhora da Piedade" existe até hoje sob a direção de Zilméia de Moraes sua filha que aos 88 anos de idade se mostra ainda muito lúcida e ativa na frente dos trabalho.


Parabéns Umbanda, este mês de novembro comemoramos mais de 100 anos de história. Mais de 100 anos de concretização no plano material.

quarta-feira, novembro 09, 2011

Quotidiano Umbandista - Meu Problema é o Seguinte



Em vários terreiros a hora do passe vai começar, e o sofrimento das entidades também.
A assistência está cheia, muito bom para a casa, mostra que é bem conceituada. Mas seus filhos, incorporados com as entidades, sofrem com os pedidos e problemas das pessoas.
Clientes que só querem tomar um passe e agradecer a proteção são cada vez mais raros.
O que prolifera são os clientes que contam sempre os mesmo problemas, que não são dois ou três e sim cinco, seis... Sempre os mesmo pedidos de milagres sem que ele, o cliente, queira fazer algo por si mesmo, e acabam jogando tudo nas mãos das pobres entidades.
Clientes mercadores, que pedem ajuda e já oferecem pagamento, fazendo a consulta parecer comércio de troca de favores. "Você me traz um emprego e eu lhe dou isso ou aquilo."
Ou então pessoas que mesmo com humildade, pedem saúde, paz, emprego, marido, proteção. Para ela, a família, o pessoa do serviço, o bairro todo.
E nisso as entidades lá, ouvindo e ouvindo as mesmas coisas, sai cliente entra cliente. Sempre com uma resposta que pode ser muito útil, que toca a pessoa e a faz ver o caminho a ser seguido, ou aquele que não satisfaz a pessoa, que na verdade queria ouvir que está tudo bem, que tudo vai dar certo e que o mundo é lindo e é todo seu.
Mais fácil seria dizer que tudo de ruim na vida é fruto de um "espirito" montado nas suas costas.
Está cada vez mais difícil se fazer caridade, pura e simples. Passe virou sessão do descarrego e aconselhamentos espiritual virou momento da libertação.
Dentro de cada um está a vontade de buscar saídas e palavras de conforto, mas também dentro de cada um está a força que faz com que a saída seja encontrada.
O papel dos terreiros é este mesmo, as entidades estão lá para isso, para ouvir problemas e mostrar à pessoa que ela pode ser capaz de superar tudo, pois foi o tempo que receitar banho solucionava tudo.
Meu Axé a Todos.
Salve a Umbanda
Thiago Sá


Jornal "Tambor" - Dezembro/2002


O Jornal Tambor foi uma das publicações direcionadas à religiões afro-descendentes mais importantes no início dos anos 2000. Criado e idealizado pela Yalorixá Sandra Epega o jornal sempre pregou pelo diálogo inter-religioso, cultura de paz e sempre deu espaço para todos as tradições religiosas.
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
O blog Aldeia do Sultão acha pertinente trazer de volta alguns do textos publicados ao invés de deixa-los guardados num arquivo de computador ou numa gaveta.