segunda-feira, agosto 22, 2011

Daqui, da assistência

           Tudo na Umbanda tem a sua importância - os médiuns, os cambonos, quem toca no atabaque. Todos têm sua importância, assim como quem freqüenta a gira e fica observando os trabalhos, a assistência. Buscando entender o papel da assistência na gira, essa categoria visa não só apenas relatar sobre, mas também entender e mostra a visão de quem está nela.

            A assistência é formada por pessoas da comunidade, ou por pessoas de outras localidades, que por indicação passam a frequentar a casa. As pessoas que estão presentes na assistência depois que as pessoas são defumadas são autorizadas à entrar na corrente espiritual para serem benzidas e se consultar com as Entidades.
As pessoas da assistência recebem a caridade de diversas formas, seja consultando e pedindo conselhos sobre questão espiritual, material ou de saúde, ou simplesmente recebendo o passe.

            Mas essa não é a única função que a assistência tem. A participação dela é importante em todos os momentos, seja com um simples bater de palma durante um ponto ou com o silêncio necessário em determinado momento. E será esse o assunto abordado por aqui.
Vamos mostrar a participação dela na organização das festas, na ajuda com a casa e em outros momentos. O que se deve e o que não se deve fazer durante uma gira, como se comportar, o poder do pensamento da assistência, seus trejeitos influenciam com a energia do local, por isso, como está em maior número, a assistência se torna uma das peças chave para o decorrer da gira.
Serão simples relatos de quem freqüenta a religião por mais de 3 anos, fatos narrados por olhares curiosos e atentos e de alguém que já foi chamado a atenção por cruzar os braços ou não ter tirado o sapato antes do benzimento, mas quem não vivenciou ou fez isso né?

terça-feira, agosto 16, 2011

Diário de Uma Médium Iniciante.

Minha família sempre teve laços com o espiritismo e durante minha infância minha mãe buscava algo que ajudasse a parar com os contínuos sonhos que atormentavam minha irmã.
Ela acabou encontrando ajuda na casa de Mãe Elizabeth de Iemanjá (nossa casa matriz) e por alguns anos frequentamos a casa inclusive minha irmã fazendo parte da corrente de médiuns.
Por motivos particulares acabamos nos afastando da Umbanda por um tempo mas a espiritualidade esteve sempre em nossas vidas.
Foi a abertura da Aldeia de Caridade e anos depois o falecimento de Mãe Elizabeth que acabou colocando a Umbanda de volta nos nossos caminhos.
Mãe Cecília, nossa Madrinha era filha de santo de Mãe Elizabeth e nossa vizinha por mais de 25 anos.
Foram esses laços de amizade e respeito que fizeram minha mãe voltar a frequentar a Umbanda e algum tempo depois eu também segui o mesmo caminho.
Foi com surpresa que me dei conta que outros membros da minha família já estavam fazendo parte da corrente espiritual e me senti mais confiante com tudo aquilo.
Durante os trabalhos, na assistência, eu sentia sensações dificeis de descrever, arrepios, choros e quase que um chamado para que eu entrasse e fizesse parte de tudo aquilo.
Foram as Entidades da casa que me aconselharam a conversar com a Madrinha e saber do que se tratavam aquelas sensações.
A conversa foi muito produtiva e acabei descobrindo quais Orixás me escolheram como filha e que eu tinha sim uma missão como médium à seguir. Aprendi sobre a vida de um médium umbandista, as obrigações, postura e responsabilidades. Tudo o mais que envolvia os preceitos e cerimonias da casa.
Uma vez dentro da corrente de médiuns, devidamente trajada em branco foi então que comecei a entrar em contato com o povo de Aruanda literalmente rsrsrs.
Tudo no começo é um pouco complicado e essa experiencia como médium não foi diferente, aos poucos comecei a aprender mais, estudar mais e conhecer mais sobre tudo que envolve a Umbanda e ser um médium de Umbanda.
Foi numa gira de Preto-Velho, na praia, que a Madrinha me ajudou na concentração e firmeza espiritual e ali mesmo incorporei minha primeira Entidade, a sensação foi estranha, diferente e foi só no fim dos trabalhos que me dei conta que eu havia mesmo tido minha primeira incorporação.
Depois disso as coisas só melhoraram e ficaram mais fortes e minha Entidades passaram a se fazer mais e mais presentes. Passei a diferenciar as energias que diferentes Entidades me passavam.
Aprender sobre as nossas Entidades é a parte mais interessante desse processo de desenvolvimento e cada gira que elas incorporam e trabalham é uma grande passo dado no aprendizado de ambos.
Não faz muito tempo, minha Preta Velha foi autorizada a benzer crianças da assistência, ao mesmo tempo que fiquei em choque com a novidade e principalmente a responsabilidade, fiquei feliz de saber que eu e minhas Entidades estamos no caminho certo e prontos pra começar a prestar a caridade aos que necessitam.
Abraços, Carolina Abla.

quinta-feira, agosto 11, 2011

Exu

          Orixá Exu é o senhor do destino, dos caminhos e da sexualidade. Ele é o mensageiro dos Orixás.
          Exu é o dono das encruzilhadas, seu pólo de força e sua morada, ao lado de Ogum ele rege os caminhos do mundo, sejam materiais, ruas, estradas e trilhas, ou espirituais.
          É o dono da sexualidade humana, é ele o dono do desejo sexual que propicia o ato que resultará na perpetuação da espécie.
          O jogo de búzios, oráculo adivinhatório dos Orixás e, por conseguinte as conchas usadas no jogo são de Exu, ele é quem permite essa comunicação. Exu, na maioria das vezes é quem responde as perguntas feitas através dos búzios, e quando outro Orixá responde é sob a permissão do dono do destino. Na verdade, Exu é o mensageiro dos Orixás, ele leva a pergunta ao Orixá em questão e traz a resposta de volta na forma da caída dos búzios.
Exu usa as cores preta e vermelha em suas velas, objetos e roupas, mas aceita também a cor branca.
          Exu come galo, farofas de carne, dendê, mel, bode, pipoca, pimenta e miúdos. Gosta de beber pinga ou bebidas alcoólicas em geral e água.
          Suas ervas são: bagaço de cana, aroeira, pimenta, arrebenta cavalo, urtiga e hortelã pimenta, suas flores são o cravo vermelho ou flores vermelhas de diversos tipos.
          Exu está ligado a forças das mais negativas, ele trabalha diretamente com Orixás de ligação as almas e a morte, como Omolu / Obaluaiê e Nanã Buruquê, ele transita por todos os lugares do mundo sem precisar pedir licença, ele poderia ser chamado de o “gari” das energias negativas, e é isso que ele faz, anda em todos os planos limpando os recintos de fluídos pesados, espíritos zombeteiros, e desmanchando trabalhos de má finalidade.
Devido a isso, Exu foi e é encarado como Orixá negativo, de finalidades ruins e maléficas, quando na realidade é ele quem combate esse tipo de realizações.
          Não é conhecido um sincretismo de Exu, infelizmente ele acabou sendo comparado com a imagem do Diabo cristão e até hoje essa figura lhe é associada. Fala-se que o santo católico mais próximo de Orixá Exu seria Santo Antonio, mas não há nenhuma certeza quanto a isso. Por não ter sincretismo Exu não tem data comemorativa, porém lhe são rendidas oferendas e festas normalmente no mês de agosto, mês conhecido por guardar energias pesadas.
          Assim como Orixá Oxosse, Exu, na Umbanda, tornou-se chefe de uma linha de Entidades, a linha chamada da Esquerda. Que reuniria espíritos de vida carnal desregrada, ilícita e vergonhosa. Na verdade, os espíritos que compõem essa linha da Esquerda são espíritos que estão no principio da evolução espiritual, dessa forma, eles estão trabalhando ligados às energias pesadas e negativas do Orixá. Abordarei a linha da Esquerda mais adiante.
          As cantigas de Exu normalmente trazem nomes de seus mensageiros e quando isso não acontece entende-se que a cantiga fala de todos os Exus em geral.

Toma lá Exu, toma lá o que é seu.
Vai no meio da rua, vai buscar o que é teu.



Exu da meia noite, Exu da madrugada. 
Oi salve o povo da encruza,
Sem Exu, não se faz nada.

         Portanto devido a várias idéias perdidas e desencontradas Exu, no papel de Orixá quase não existe dentro da Umbanda, o que existe são os espíritos de sua linha que também atendem pelo nome do Orixá.
          A Exu faz-se pedidos de descarrego, fechamento de corpo e principalmente prosperidade amorosa, sexual e financeira. Exu é a resposta para todos os males, sejam eles da origem que forem, é essa a sua imagem, o de curador de todos os males.
          Não existe registro de giras de Orixá Exu na Umbanda, somente as de seus mensageiros. O símbolo de Exu é o tridente de ferro com três pontas, chamado popularmente de garfo. Ele representa a força de Exu, que também teria relação com o ferro e o usa como arma para proteger a todos.
          Ele é o Orixá mais contraditório de todos, a sua personalidade é de atrevido, contestador e provocador. Ele é a divindade que mais se aproxima do caráter humano, por transitar livremente pelos dois mundos, carnal e espiritual, Exu tem uma ligação muito grande com os seres humanos, tem sentimentos que não são atribuídos aos outros Orixás, como inveja e luxúria. Exu exige que ele seja o primeiro Orixá a ser lembrado sempre que algo será feito, ele pede agrados, presentes e oferendas não mais que os outros Orixás, mas sempre ele deve ser o primeiro. Quando Exu está feliz, tudo o que se pede ele prontamente se dispõe a fazer.
          É quase uma lenda falar de templos de Umbanda que não cultuam Exu, ele está sempre presente nas entradas de todos os templos em grandes casas erguidas a ele ou em pequenas quartas de barro, é sempre muito prestigiado com grandiosas festas e oferendas de muita beleza. Quando se louva Exu, saúda-o com “Laroyê Exu”, ou “Mojubá Exu” cujos significados são próximos de “Eu me curvo perante Exu” e “Salve a força de Exu”.

            Arquétipo de seus filhos

O arquétipo de Exu é muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas com caráter ambivalente, ao mesmo tempo boas e más, porém com inclinação para a maldade, o desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção. Pessoas que têm a arte de inspirar confiança e dela abusar, mas que apresentam, em contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos problemas dos outros e de dar ponderados conselhos, com tanto mais zelo quanto maior recompensa esperada. As cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas lhes convém particularmente e são, para eles, garantias de sucesso na vida. (Verger)*

* Trecho retirado do livro “Orixás” de Pierre Verger, 1996.
Por  Thiago Sá

sábado, agosto 06, 2011

Umbanda de Outras Bandas

Quando desembarquei na Nova Zelândia em dezembro de 2006 eu trazia na bagagem além de meus pertences e um coração cheio de expectativas eu trazia uma vida inteira dedicada à Umbanda. Eram quase dez anos como médium e dois anos de iniciação como Sacerdote ou Pai de Santo.
Sempre faço piadas dizendo que minha bagagem teve excesso de peso pois eu trouxe todos os Orixás e Entidades comigo.
Fui recebido por minha grande amiga Elisangela que foi a razão de eu escolher vir para um lugar tão longe de tudo e que mais tarde seria minha primeira filha de santo.
Logo de cara a gente se pergunta como vai se virar morando numa terra onde niguém sabe o que é Oríxá, Caboclo e Exu, muito menos Umbanda.
Acredito que minhas Entidades e os Orixás me acompanharam nessa jornada assim como acompanharam seus filhos africanos que cruzaram o Atlântico rumo à América e escolheram aceitar um culto diferente do original pois o mais importante é a fé que sentimos e não o local onde cultuamos.
Como Pai de Santo aprendi e me preparei pra me virar bem morando longe do templo e sem o convívio de minha Mãe de Santo, trouxe comigo meus búzios, umas duas guias e uns dois panos de cabeça, estava seguro, pensei.
Diferente de outros brasileiros umbandistas que moram em Portugal, EUA e Japão onde podem encontrar praticamente tudo oque encontramos no Brasil e assim praticar a Umbanda do mesmo jeito que constumavam, eu me deparei com as dificuldades mais primárias.
Vela comum? Não tem. Charuto? Não tem. Defumador? Não tem. Pemba? Não tem. E as sábias palavras de minha mãe cantavam no meu ouvido: "Meu filho, as Entidades entendem e aceitam aquilo que você puder oferecer."
Pois bem, as velas são as pequeninas que se usa de decoração e numa variedade de cores bem primárias, o charuto é cigarrilha ou cigarro comum, o defumador virou incenso e a pemba é giz.
Se não fosse pelas caixas super recheadas de artigos religiosos que chegaríam pelo correiro vindas do Brasil acho que Caboclo ainda ia estar fumando cigarrilha, obrigado Padrinho!
Lembro-me da primeira incorporação, Exu como sempre o primeiro veio discretamente entre as árvores de um parque gramado em frente ao lago da cidadezinha que morava com a vista das montanhas ainda com neve no topo. Ficou por alguns minutos, conversou com Eli e foi embora me deixando a sensação de que muita coisa ainda estava por vir.
Na quaresma no mesmo lugar Preto Velho veio, sentou na grama coitado, nao tínhamos um toco pro velho bancar. Veio para o fechamento de corpo da sexta-feira Santa, cruzou seu cavalo e sua filha e me mostrou que ali começava a jornada. Eu, uma filha de santo e uma terra completamente estrangeira para desbravar.
Acredito que vim pra cá por uma razão. Quem sabe não seja a de "levar ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá".
Saravá a Umbanda!
Thiago Sá