domingo, julho 28, 2013

NANÃ

 
Sei que muitos terreiros pouco cultuam e que alguns pouco conhecem esse orixá, assim, espero que com este texto consigamos nos aproximar dessa que, com tamanha força e expressão, muito pode transformar nosso íntimo.
Nanã é a Divindade Suprema que junto com Zambi fez parte da criação, é a mais antiga de todos os Orixás, a mais velha e a mais respeitada. Historiadores afirmam que  Nanã “surge” anterior à Idade do Ferro, provocando uma relação “conturbada” com Ogum.
É responsável pelo elemento barro, que deu forma ao primeiro homem e a todos os seres viventes da terra.

 
Dizem que quando Olorum, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o Homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o Homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o Homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde ela morava, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o Homem e o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.
 
Com o barro, Nanã propicia o uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver a cultura.
Orixá que auxilia as passagens difíceis da vida, que pode trazer riquezas assim como a miséria, é a própria evolução do Ser, o princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte. Nanã tanto rege a vida como a morte, sequências da mesma realidade.
Pertencem a Nanã os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, entretanto, o que a melhor sintetiza é o “grão”, pois, além de Nanã possuir domínio sobre a agricultura e desenvolvimento do homem, todo “grão” tem que morrer para germinar. Nanã é que dá nascimento às sementes permitindo transmutação e transformação contínua para que nada se perca.
Nanã é considerada a Divindade da Lua Escura, essa Lua também é chamada de fase Balsâmica que tem como atributo a energia passiva, receptiva e libertadora propiciando o esquecimento do passado para se direcionar ao futuro. Assim, como Nanã Buruquê, libertar o passado para iniciar um novo ciclo, com consciência e clareza.
A mais controversa no panteão africano, Nanã ora é perigosa e vingativa, ora doce e acolhedora. Sua terra se transforma em lama e é da terra que nascemos, para terra que seremos levados ao morrer. É a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.
Dona da sabedoria e da justiça que vem da natureza, age com rigor em suas decisões, oferece segurança, mas não aceita traição, sua lei é implacável.
 
No início dos tempos os pântanos cobriam quase toda a terra. Faziam parte do reino de Nanã Buruquê e ela tomava conta de tudo como boa soberana que era. Quando todos os reinos foram divididos por Olorun e entregues aos orixás,uns passaram a adentrar nos domínios dos outros e muitas discórdias passaram a ocorrer. E foi dessa época que surgiu esta lenda: Ogum precisava chegar ao outro lado de um grande pântano, lá havia uma séria confusão ocorrendo e sua presença era solicitada com urgência. Resolveu então atravessar o lodaçal para não perder tempo. Ao começar a travessia que seria longa e penosa ouviu atrás de si uma voz autoritária: – Volte já para o seu caminho, rapaz! – Era Nanã com sua majestosa figura matriarcal que não admitia contrariedades – Para passar por aqui tem que pedir licença! – Como pedir licença? Sou um guerreiro, preciso chegar ao outro lado urgente. Há um povo inteiro que precisa de mim. – Não me interessa o que você é e sua urgência não me diz respeito. Ou pede licença ou não passa. Aprenda a ter consciência do que é respeito ao alheio. Ogum riu com escárnio: – O que uma velha pode fazer contra alguém jovem e forte como eu? Irei passar e nada me impedirá! Nanã imediatamente deu ordem para que a lama tragasse Ogum para impedir seu avanço.
O barro agitou-se e de repente começou a se transformar em grande redemoinho de água e lama. Ogum teve muita dificuldade para se livrar da força imensa que o sugava. Todos seus músculos retesavam-se com a violência do embate. Foram longos minutos de uma luta sufocante. Conseguiu sair, no entanto, não conseguiu avançar e sim voltar para a margem. De lá gritou: – Velha feiticeira, você é forte não nego, porém também tenho poderes. Encherei esse barro que chamas de reino com metais pontiagudos e nem você conseguirá atravessá-lo sem que suas carnes sejam totalmente dilaceradas. E assim fez. O enorme pântano transformou-se em uma floresta de facas e espadas que não permitiram a passagem de mais ninguém. Desse dia em diante Nanã aboliu de suas terras o uso de metais de qualquer espécie. Ficou furiosa por perder parte de seu domínio, mas intimamente orgulhava-se de seu trunfo: – Ogum não passou!
 
Ufa… Espero que toda essa vibração, energia e sabedoria cheguem ao íntimo de cada um e que aproveitem bem cada ciclo e oportunidade da vida lembrando que, incontestavelmente voltaremos para o mesmo lugar.
Assim, só peço a Nanã que nos permita “voltar” melhor.
 
*por Mãe Mônica Caraccio - Fonte: Minha Umbanda

sexta-feira, julho 12, 2013

Mais sobre o Atabaque - Toques

 
 
 
 
*Fonte: Pontos de Umbanda - Escola de Ogans

O Atabaque e o Ogã

O atabaque pode ser tocado com as mãos ou ainda com baquetas / varinhas especiais feitas de galhos de goiabeiras ou araçazeiros. Seu nome tem origem árabe at-tabaq que significa prato. É feito com a madeira da gameleira.
Na madeira o axé de Xangô, nos aros de metal a força de Ogum e Exu e na pele de origem animal a influência de Oxossi.
Run – é o maior atabaque com som grave. Run significa rugido.
Rumpí – é o intermediário com som mediano. Run significa rugido e pi imediatamente.
Lé – é o menor atabaque e tem o som mais agudo. Lé significa pequeno.
O Run é responsável pelo solo musical. Os outros Rumpí e Lé dão suporte e manutenção do ritmo, assim como repiques e variações.
Não devem ser tocados por pessoas não preparadas para esse fim pois poderia acarretar uma quebra de energias existentes no instrumento ou ainda na transmissão de vibrações que não seriam benéficas à pessoa despreparada.
Não é qualquer um que pode ser Ogã. Os Ogãs possuem a capacidade de ativar energias, devem ser conhecedores de rezas e fundamentos de cada Orixá, além de saber a hora certa de entoar cada canto e toque, de acordo com a necessidade do trabalho.
O mais importante é o ogã ter amor, dedicação e buscar sempre o conhecimento.
Ogã tem mediunidade. O que lhe difere da maioria dos médiuns é que a mediunidade se manifesta através do “Dom Musical”.
Mediunidade de Lucidez Artística Musicista, age em especial nas mãos e braços em ogãs de couro ou nas pregas vocais em ogãs de canto. Quando preparadas pelas entidades estas regiões são irradiadas e iluminadas pelas forças astrais. Como qualquer médium, veio com uma missão predeterminadas pelas forças superiores. Todo ogã tem obrigação de cuidar de e buscar o aprimoramento de seu dom. Seu desenvolvimento e crescimento mediúnico dependerão exclusivamente de si próprio, pela disciplina, força de vontade, fé e respeito para com as obrigações.
Os Ogãs também podem manifestar mais de um tipo de mediunidade.

 Na umbanda, de certa forma, é natural encontramos ogãs que além do dom musical possuem a mediunidade de incorporação.
É importante salientar que quando começam a sés, devem a irradiação de seus guias devem pedir autorização para deixar o atabaque e incorporar , prevenindo assim problemas na sessão.
Outros tipos de mediunidade também podem se desenvolver como vidência, cura, intuição etc. o mais importante é cumprir o seu dever com amor no coração.
Que os ogãs levantem suas mãos aos céus e agradeçam a zambi pelo dom divino que tem, pois é através de suas mãos e canto que os sons sagrados fluem na aruanda dos orixás.
Dentro da casa, o ogã deve dar o bom exemplo disciplinar. Deve estar concentrado naquilo que faz, evitando conversas alheias aos trabalhos realizados. O respeito as entidades é primordial. Quando uma delas estiver passando uma mensagem aos membros da casa, os atabaques devem ser silenciados de modo que se facilite a compreensão de todos.
Pontos de louvação são cantados os orixás e guias.

Pontos de saudação para homenagear o conga, a religião, ogãs.

Pontos de firmeza solicitam as energias do astral superior,.

Pontos de descarrego são os pontos de defumação

Pontos de chamada para evocação das entidades.

Pontos de demanda são para quebrar demandas e cargas negativas na casa

Pontos de sotaque são como um alerta de que alguém mal intencionado encarnado ou não, está na casa. Esse tipo de ponto de forma indireta, deixa claro que a pessoa deve se retirar no local.

Pontos cruzados irradiam energias de duas ou mais linhas ao mesmo tempo.

Pontos de subida para as entidades que estão indo embora.

Pontos de encerramento são cantados no final da sessão.

Pontos especiais para visitar uma casa, agradecer uma visita.



Amaci – banho de infusão de ervas, serve para quebrar e energizar a coroa dos médiuns.
Toques da umbanda mais comuns : ijexá, cabula, barra vento, congo de ouro, samba de caboclo, samba de roda, maquelele.
Os ogãs obrigam-se a aprender o maior número possível de ritmos., facilitando a harmonização entre canto e toque. Um bom conselho é o treinamento ou seja, ensaio habitual entre aqueles que fazem parte da curimba da casa.
Quando não estão sendo empregados nos cultos, os tambores devem estar cobertos pelo Dossel de Oxalá pois é quem traz as energias divinas representativas de Oxalá. O ato de cobrí-los é um sinal de respeito aos instrumentos de maior vibração do terreiro.
Ao término dos trabalhos, os instrumentos voltam a ser cobertos.
Esta firmeza é simples e deve ser feita pelo alabê ou por outro ogã autorizado ou ainda pelo dirigente espiritual. O ‘;único material utilizado é um defumador em tablete ou incenso. Defumam-se os atabaques saudando em cada um seu orixá correspondente. O incenso é colocado embaixo do atabaque, reza-se um pai nosso e uma ave Maria,.
Para trazer mais força e vibração aos ogãs, mãos e couro do atabaque, no final da sessão o ogã deve levantar seu atabaque em frente ao altar para Oxalá solicitando que a carga seja levada para o fundo do mar de Iemanjá. Depois, colocam-se os atabaques no lugar, coloca-se pemba nas mãos e no couro deixando até a próxima sessão.
Para energizar as mãos, coloca-las sobre o altar com as palmas pra cima, firmando a cabeça e pedindo que Oxalá ilumine a você e a sua mediunidade.
Água benta nos couros para limpeza, isso é da Umbanda, ou lavar o couro com água do mar para quebrar as forças negativas.
Muitas vezes o atabaque funciona como um para raios, atraindo forças que certamente atrapalhariam o terreiro e apesar de toda preparação, firmeza e proteção que neles possa existir, ainda assim seus operadores poderão sofrer certas influências. Por isso as guias são utilizadas também pelos ogãs. As cores da guia de um ogã correspondem as cores dos orixás da casa. Por exemplo : Iansã, Oxalá e Oxossi : miçangas vermelhas, brancas e verdes.
Na umbanda, a guia de exu não deve ser colocada passando pela cabeça e sim pelos pés, de baixo pra cima, pois somente os orixás tomam conta da coroa do médium.
Demanda é a ação contra algo ou alguém. Devemos tomar o máximo de cuidado pois a inveja e o mau olhado são males tão nocivos que podem exercer uma ação muito mais eficaz que qualquer feitiçaria ou influência de espíritos vingativos e obsessores. E onde entram os ogãs nesse ponto ? pó serem sacerdotes eles precisam adquirir diversos conhecimentos porém muitos deles os aproveitam não só para se defender das forças negativas mas também para ativa-las. Um tocador mal intencionado é capaz de derrubar uma casa, de formar tamanha confusão (quizila) dentro de um terreiro que certas vezes consegue fazer com que alguns velas tombem.os tambores são tão capazes de chamar as entidades de luz quanto os espíritos mais atrasados.l tudo depende da forma como ele toca o couro e sua vontade também. É aí que os Ogãs da casa quando forem firmes no pensamento, preparados e protegidos pois aqueles que fazem sua segurança, atuam contra esse serviço sujo.
Daí vem a importância da firmeza nas obrigações, das proteções de uma boa intuição dos mãos de couro da casa. Quando o atabaque esta bem vibrado pelas forças dos orixás normalmente quem se dá mal é quem esta querendo demandar pois as energias recaem sobre ele. É a famosa lei do retorno que no caso é imediata. Adquirir conhecimento é fundamental pra todos em especial o ogã. Porem saber direcionar esse conhecimento em prol do amor e da caridade atuando contra o mal é o grande objetivo da umbanda.
Na umbanda, uma mulher tem total condições para ser uma atabaqueira. Se considerarmos que os Ogãs tem um dom divino, uma faculdade mediunica musical, esta não vem com gênero mas sim com espírito e este por ter origem na essência divina não tem sexo.

*Fonte Umbanda Sete