quarta-feira, setembro 05, 2012

Quotidiano Umbandista - No Coração, a Umbanda

 
Ela começou na Umbanda bem jovem. Uma vizinha vinda do Rio de Janeiro montou nos fundos da casa um Congá, e lá deu início a uma Tenda de Umbanda.
Lembra-se que depois da primeira visita passou o medo e começou entender que se tratava de uma religião, e pouco tempo depois já vestia branco e começava a “girar”.
Ela trabalhou por muitos anos naquela casa. Desenvolveu-se com suas Entidades, constituiu família e educou seus dois filhos conforme as Leis da Umbanda.
Com a morte da Dirigente da casa e de seu fechamento, quase vinte anos depois, se viu sem lugar para seguir sua missão. Mas sentia que seus Guias queriam continua-la.
Começou então a procurar outra casa para seguir sua caminhada.
Encontrou um Centro de Umbanda próximo de casa, que ela passou a freqüentar na assistência, pois preferiu conhecer a forma de trabalho da casa para depois se decidir por entrar.
As roupas, os fios de contas e outras coisas eram diferentes, mas a Umbanda estava ali presente.
Quando estava inclinada a procurar o Dirigente da casa, para saber se poderia fazer parte do corpo mediúnico, soube que a casa estava sendo fechada, pois devido ao trabalho do Dirigente ele mudaria para o interior. Fazia seis meses que ela freqüentava a casa, e quando realmente havia se decidido, era tarde.
Passou a freqüentar outro Cento de Umbanda, mas este era um tanto deturpado.
Os trabalhos terminavam altas horas da madrugada, o comportamento das Entidades era estranho, muitos palavrões, gritarias, pessoas caídas pelo chão e como dizem, “muito cacique para pouco apito”. Todos pareciam ser a Mãe de Santo, mandando e desmandando uns aos outros.
O tempo que ela ali “perdeu” não lhe ajudou na escolha. E por mais que aquela casa se intitulasse Umbanda, aquela não era a Umbanda que ela havia praticado.
Dentro de si ela ainda sentia a força de seus Guias, e a vontade deles de trabalhar a fez continuar em busca de uma casa onde ela se sentisse bem.
Conheceu uma Mãe de Santo muito simpática, que lhe convidou a conhecer sua casa de Orixá. Com pouca idade, ela parecia ser muito dedicada à religião, sua casa era bonita, havia vários filhos, mas nada era o que parecia ser.
Pouco tempo depois, quando ia chegando para mais um dia de toque, o terreiro estava fechado, e assim ficou até ser descoberta a verdade. A Mãe de Santo havia fugido, pois tinha o nome sujo na praça além de ter um filho de Santo casado como amante.
Era isso o que faltava, e decepcionada, resolveu dar um tempo.
Passou três anos sem pôr os pés num Centro de Umbanda. Perdeu a esperança de um dia voltar a incorporar seus Guias.
Passados estes três anos, decidiu que não ia mais trabalhar e que devia despachar suas coisas. Sua família se formou na Umbanda e sempre a acompanhou em suas decisões, e agora não seria diferente.
Apesar da tristeza, sua filha e seu genro a levaram numa mata que conheciam onde passava um pequeno rio. Chegaram à mata carregando suas roupas, fios de contas, objetos das Entidades, tudo para ser entregue.
Mas antes de tudo, a persistente médium que conheceu a Umbanda bem jovem, e que agora era uma mãe de família com seus quarenta anos, incorporou seu Caboclo que há seis anos não baixava.
O caboclo muito sereno sentou-se no chão com a filha e o genro da senhora e lhes falou para recolher tudo aquilo e levar de volta para casa, mas para a casa dele, que ainda ia ser construída.
O Caboclo determinou que seu “cavalo” fundasse um Congá do tamanho que fosse, e que ali retomasse sua missão de acordo com o que ela havia aprendido. E que ali seria um Congá de amor e fé na Umbanda, coisas que ela nunca perdera em seu íntimo.
Emocionada o casal se prontificou em atender a determinação do Caboclo, que foi embora deixando sua mensagem.
Seis meses depois, com a ajuda de toda a família, estava pronto o Congá que o Caboclo havia pedido. Ali, a médium reencontrou sua Umbanda tão querida e voltou a praticar a caridade, a qual pratica até os dias de hoje com a benção dos Guias e Orixás.
Meu Axé à todos. Salve a Umbanda!                            03/06/2003



O Jornal Tambor foi uma das publicações direcionadas à religiões afro-descendentes mais importantes no início dos anos 2000. Criado e idealizado pela Yalorixá Sandra Epega o jornal sempre pregou pelo diálogo inter-religioso, cultura de paz e sempre deu espaço para todos as tradições religiosas.
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
O blog Aldeia do Sultão acha pertinente trazer de volta alguns do textos publicados ao invés de deixa-los guardados num arquivo de computador ou numa gaveta.






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