sábado, agosto 06, 2011

Umbanda de Outras Bandas

Quando desembarquei na Nova Zelândia em dezembro de 2006 eu trazia na bagagem além de meus pertences e um coração cheio de expectativas eu trazia uma vida inteira dedicada à Umbanda. Eram quase dez anos como médium e dois anos de iniciação como Sacerdote ou Pai de Santo.
Sempre faço piadas dizendo que minha bagagem teve excesso de peso pois eu trouxe todos os Orixás e Entidades comigo.
Fui recebido por minha grande amiga Elisangela que foi a razão de eu escolher vir para um lugar tão longe de tudo e que mais tarde seria minha primeira filha de santo.
Logo de cara a gente se pergunta como vai se virar morando numa terra onde niguém sabe o que é Oríxá, Caboclo e Exu, muito menos Umbanda.
Acredito que minhas Entidades e os Orixás me acompanharam nessa jornada assim como acompanharam seus filhos africanos que cruzaram o Atlântico rumo à América e escolheram aceitar um culto diferente do original pois o mais importante é a fé que sentimos e não o local onde cultuamos.
Como Pai de Santo aprendi e me preparei pra me virar bem morando longe do templo e sem o convívio de minha Mãe de Santo, trouxe comigo meus búzios, umas duas guias e uns dois panos de cabeça, estava seguro, pensei.
Diferente de outros brasileiros umbandistas que moram em Portugal, EUA e Japão onde podem encontrar praticamente tudo oque encontramos no Brasil e assim praticar a Umbanda do mesmo jeito que constumavam, eu me deparei com as dificuldades mais primárias.
Vela comum? Não tem. Charuto? Não tem. Defumador? Não tem. Pemba? Não tem. E as sábias palavras de minha mãe cantavam no meu ouvido: "Meu filho, as Entidades entendem e aceitam aquilo que você puder oferecer."
Pois bem, as velas são as pequeninas que se usa de decoração e numa variedade de cores bem primárias, o charuto é cigarrilha ou cigarro comum, o defumador virou incenso e a pemba é giz.
Se não fosse pelas caixas super recheadas de artigos religiosos que chegaríam pelo correiro vindas do Brasil acho que Caboclo ainda ia estar fumando cigarrilha, obrigado Padrinho!
Lembro-me da primeira incorporação, Exu como sempre o primeiro veio discretamente entre as árvores de um parque gramado em frente ao lago da cidadezinha que morava com a vista das montanhas ainda com neve no topo. Ficou por alguns minutos, conversou com Eli e foi embora me deixando a sensação de que muita coisa ainda estava por vir.
Na quaresma no mesmo lugar Preto Velho veio, sentou na grama coitado, nao tínhamos um toco pro velho bancar. Veio para o fechamento de corpo da sexta-feira Santa, cruzou seu cavalo e sua filha e me mostrou que ali começava a jornada. Eu, uma filha de santo e uma terra completamente estrangeira para desbravar.
Acredito que vim pra cá por uma razão. Quem sabe não seja a de "levar ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá".
Saravá a Umbanda!
Thiago Sá

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