Muitos
preparativos movimentavam o terreiro há alguns dias. Estava próxima a data da
festa do Orixá do Templo, Xangô, e todos os filhos vinham trazendo ingredientes
e alimentos que seriam preparados para a grande festa.
Seriam
feitos pratos prediletos de Xangô, muitos quiabos, camarões secos, inhames pilados,
acarajés e carne de carneiro. Na véspera da festa tudo já estava no Templo
sendo organizado pelas filhas da casa chefiadas pela Sacerdotisa. Nessa mesma
noite o carneiro foi sacrificado, Exu recebeu sua parte antes de tudo e Xangô
todo o resto. O animal foi para a cozinha ser limpo, retirar toda a barrigada,
o couro, a cabeça, e as partes do carneiro foram destinadas a cada tipo de
comida.
Na manhã
seguinte a cozinha do Templo já estava movimentada, todas ajudando e tendo o
que fazer. O trabalho não era pouco, algumas picavam, lavavam, outras
cozinhavam e todas cantavam para Xangô, falavam de como tudo ficaria bonito e
gostoso. Dentro do Templo o trabalho dos homens era de enfeitar a casa para a
festa, com folhagens e flores das cores amarela e vermelha.
Todos
estavam cansados, mas ninguém desanimava, tudo era feito com amor.
No fim da
tarde deu-se início a festa, foram toques em homenagem ao dono do Templo, o
responsável pela prosperidade da casa e de seus filhos. Todos estavam muito
emocionados e com Xangô em terra todas as suas comidas foram trazidas e postas
a sua frente para que ele as abençoasse. Estava tudo do jeito que ele gosta,
comidas de seu gosto, muita beleza e fartura.
Ao fim do
toque, os filhos, a Sacerdotisa e a assistência puderam comer do “ajeum”
abençoado por Xangô e por todos os outros Orixás que estiveram ali, invisíveis
para nós, mas partilhando com Xangô de seus presentes culinários e da
demonstração de fé de seus filhos.
Enquanto
todos comiam e se deliciavam com os quitutes do Rei da Umbanda e comentavam o
sucesso da festa, a alegria de mais uma celebração realizada, de como o Templo
estava bonito e de como estavam todos muito cansados, porém muito satisfeitos
Xangô estava ali no Congá, sentado numa pedra em sua pedreira observando com
satisfação todos os seus filhos comendo de sua comida, comendo com ele,
mostrando o verdadeiro papel das festas de Orixá, reunir a família do Axé,
louvar as Divindades, oferecer comidas e presentes a elas e partilhar de suas
energias benéficas através do alimento abençoado.
Orixás felizes, filhos felizes e a casa próspera. Nada mais a pedir.
Meu Axé a todos. Salve Xangô! Salve a Umbanda!
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
O blog Aldeia do Sultão acha pertinente trazer de volta alguns do textos publicados ao invés de deixa-los guardados num arquivo de computador ou numa gaveta.