segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Aprendendo sobre a Umbanda: Preceito

PRECEITOs.m. Aquilo que se aconselha fazer ou praticar; regra, ensinamento: os preceitos da religião.
 Ação de prescrever; prescrição.
Religião. Norma ou mandamento.
(Etm. do latim: praeceptum.i)


Toda profissão, todo esporte, toda lei, toda religião tem seus preceitos. Parece-me que a vida humana e social é regida dentre outras coisas de preceitos.
Não é diferente na Umbanda, todo umbandista do mais veterano ao mais novato sabe dos preceitos básicos para participar de um trabalho espiritual e é talvez uma das poucas coisas que são igualmente presentes em todos templos de Umbanda, diferenciando apenas um ou outro preceito mais específico de templo a templo.
Embora seja algo de conhecimento comum, observamos muitos negligenciarem preceitos fundamentais, ou seja, de fundamento.
Vivemos um período novo na Umbanda, de muita comunicação, de farta informação, estudos e acessos, no entanto, o ônus disso é muitas vezes a confusão, a dispersão ou mesmo a negação daquilo que é tradicionalmente fundamental em detrimento de uma “nova” consciência.
Hoje encontramos discursos inflamados e até mesmo bem construídos querendo desconstruir preceitos que são o que são porque foram assim ensinados pelos espíritos na Umbanda.
Alegar parafraseando Jesus, que o mais importante é o que sai pela boca e não o que entra validando comer carne e beber álcool em dias de trabalho espiritual é uma grande falta de entendimento básico sobre o que é preceito, bem como um ato de ignorância diante a mística da religião.
Sei que existem preceitos sem precedente e outros bem exagerados, talvez na minha ótica, pois não os pratico em meu Templo, porém o fato de eu não conhecer ou praticar, isso não invalida um preceito particular.
Realmente precisamos distinguir o que é preceito e o que é superstição, talvez seja aí onde nos esbarramos com muitos conflitos.
Preceitos são orientações importantes para nortear e conectar o fiel numa dinâmica mais profunda com sua espiritualidade. Muitas vezes pode parecer até purgativo e quanto mais difícil parecer um preceito, mais eficácia reflexiva ele oferece ao fiel. Pois é, na proibição daquilo que lhe é rotineiro em função de algo maior, lhe faz refletir sobre a diferença entre o Sagrado e o Profano, sobre sua capacidade de dedicação e comprometimento, sobre a sua disponibilidade em ser mais eficiente e mesmo sobre a real importância da religião na sua vida. Já vi muitos casos de pessoas se reformarem ao observar com dedicação os preceitos.
Para vegetarianos o preceito de não comer carne um dia antes do trabalho espiritual não significa nada, ele de certa forma vive este preceito todos os dias, este indivíduo não precisa abrir mão de nada neste caso, de modo que não propõe nenhuma reflexão no período.
Numa ótica litúrgica, preceitos tem portanto o objetivo que religar (religare) o fiel com o Sagrado. No entanto, como na Umbanda existem questões mais complexas, consideramos o plano das energias e todos e tudo como energias, então os preceitos contemplam as particularidades que viabilizam maior sutilização e purificação do campo energético e magnético daqueles que participam do trabalho espiritual.
Perceba que em nenhum momento digo que os preceitos servem apenas aos médiuns, embora muitos acreditam que sejam. Um erro. Os preceitos servem para todos que compõem o corpo interno de trabalhadores da Gira, ou seja, médiuns, cambones, curimba e todos com qualquer outra função que estejam participando diretamente do trabalho espiritual, portanto somente a consulência está livre das orientações preceituais.
Então compreenda que os preceitos não são opcionais e tem fundamento.
 
Abaixo listo alguns preceitos básicos e comuns.
Banho de Ervas – antes de ir para o Templo, tem como objetivo limpar e sutilizar o campo energético em camadas mais superficiais. O modo de preparo e as ervas a serem utilizadas é específico a cada Templo;
Carne – não comer carne 24hs antes do trabalho espiritual, no mínimo 24hs. E é todo tipo de carne. Tem como objetivo minimizar os impactos vibratórios densos mais internos ocasionados pela ingestão destes alimentos. A carne é impregnada de energia densa, por conta do sangue, muitas vezes do sofrimento no abate e criação. Sua digestão também é lenta e isso altera nosso metabolismo e faz concentrar muita energia na digestão. Após 24hs nosso campo energético já terá metabolizado este magnetismo e retomado o padrão;
Ingestão Alcoólica – o elemento etílico é potencialmente densificador vibratório e magnético, impregnando o campo áurico de uma energia desestabilizadora. Após ingerir bebida alcoólica desde que moderadamente, demora cerca de 24hs para ser metabolizado pelos chakras e o padrão vibratório se restabelecer;
Relação Sexual – evitar relação sexual 24hs antes dos trabalhos. Muitos questionam que se praticam o sexo com parceiro fixo, cheio de amor, então deveria ser revisto este preceito. Esta idéia tem como precedente uma visão errada do sexo de que seria ele algo nocivo. Mas não se trata nada disso.
A observação deste preceito se dá, pois com ou sem amor, na relação sexual o campo energético em todas escalas é inundado pela energia do parceiro, alterando completamente a estrutura magnética do seu campo vibratório, o que dificulta a fusão magnética entre as entidades e os indivíduos. Após 24hs já terá sido metabolizado e restituido o padrão magnético do indivíduo.
Existem muito outros preceitos mais específicos. Aqui pontuei superficialmente os 4 básicos que encontraremos em qualquer templo.
Sendo assim, fica o alerta para que você filho de fé da Umbanda, observe, respeite e pratique com empenho os preceitos. Isso lhe dará maior consciência religiosa, maior entrosamento espiritual e é uma das dinâmicas construtoras de uma espiritualidade religiosa mais refinada.
Ser Umbandista é contemplar em prática diária com amor, tudo aquilo que aprendemos no Templo.

Por Rodrigo Queiroz 

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Mediunidade Umbandista - Ultima parte

Acreditamos que conseguimos levantar um pouco do denso véu que recai e transforma a mediunidade em algo misterioso e ao mesmo tempo difícil de lidar.
 
Devemos estar sempre alertas, para o fato que tanto nós como as entidades espirituais convivem e somos conseqüência da nossa pluralidade de existências. E que também estamos sob a vigência da Lei Maior chamada EVOLUÇÃO. Por conta disso, nada, mas nada mesmo pode ficar estático, impenetrável, insolúvel, misterioso e incognoscível (que não se pode conhecer) no Universo. Impenetrável, insolúvel e incognoscível, somente Deus.
Respeitemos, pois, a mediunidade alheia.
Não sejamos críticos daquilo que não podemos garantir em nós mesmos.
Não menosprezemos o trabalho alheio, para mais tarde não sermos nós os menosprezados.
Por maior que seja a nossa certeza e fidelidade (inconsciência) mediúnica, lembremos que amanhã podemos nos deparar com uma situação completamente nova que não consigamos catalisar direito.
Para isso é que existe uma máxima que diz: médiuns desenvolventes somos todos, para sempre.
Divaldo Franco, o grande orador espírita, um dia deixou de estudar o tema escolhido para ele ministrar uma palestra, por que tinha certeza, que nessa hora um espírito se aproximaria dele e lhe inspiraria. Chegado o momento, chamado ao púlpito, com centenas de pessoas à frente, Divaldo se desesperou. Nada de espírito algum se manifestar, e como ele não tinha estudado, nem dele mesmo conseguiria proferir algo sobre o tema em questão. Quando seu silêncio estava se tornando constrangedor, sua instrutora espiritual Joanna de Angelis lhe apareceu e chamou a sua atenção. Aquela seria a última vez que Divaldo seria ajudado por um espírito se ele não estudasse os temas das palestras antes de efetuá-la. Além de proporcionar o seu aprendizado individual, estudar os temas permite a Divaldo, criar um arquivo em seu psiquismo para facilitar a comunicação do espírito instrutor e na formação da concatenação das idéias a serem transmitidas.
 
Diante de fatos como esses, eu prefiro que meus conhecimentos sejam como já foram tachados, originados de livros e internet, pelo menos eu estudei e pesquisei bastante; que eu seja um médium que não está com nada e que cometa gafes e ratas no exercício da minha mediunidade, eu prefiro estar em constante desenvolvimento e aprimoramento mediúnico, ou como já disse Raul Seixas, "Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante".
Agradeço a todas as entidades que escolheram trabalhar com este médium (falho e cheio de defeitos), com certeza, elas sim, acreditam na minha capacidade e estão satisfeitos com os resultados que alcançam.
Em resposta a todas as críticas a minha mediunidade, digo apenas o seguinte: os cães ladram e a caravana passa.
 
                                                  *Fonte: Espiritualidade e Umbanda, por Caio de Omolu

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Mediunidade Umbandista - Parte 2



Vamos falar claramente sobre mediunidade?
 
1. A mediunidade é uma benção, uma misericórdia divina, uma ferramenta ou instrumento de comunicação entre o plano dos espíritos desencarnados e o dos espíritos encarnados (nós, os terráqueos).
2. É uma benção e uma misericórdia, pois ela é uma adaptação das faculdades, que nós mesmos perdemos a milhares de anos atrás, quando abusamos das leis universais. Nessa época tínhamos a faculdade da visão e audição direta com o plano espiritual e não precisávamos de intermediários para tal função. Sem entrar no detalhamento do motivo que levou a perda de tais faculdades, precisamos saber somente que, após perdê-las, o mundo espiritual proporcionou a humanidade essa possibilidade de contato, através dos canais mediúnicos. Determinadas modificações no psiquismo humano gerou a mediunidade.
3. A mediunidade é algo complexo, que envolve delicados fatores para a existência do processo de suas manifestações.
4. O primeiro deles é a necessidade da existência do psiquismo de um ser encarnado. Sem esse campo de atuação não existe mediunidade. Ou seja, sem o médium, não é possível a manifestação mediúnica de qualquer espécie. Parece uma coisa óbvia, mas parece que as pessoas esquecem dessa obviedade ao analisar, criticar e classificar um médium ou a mediunidade alheia.
5. A segunda é que, no caso da incorporação e discorreremos nesse artigo somente sobre este tipo de mediunidade, necessário se faz a existência de uma entidade espiritual, nesse caso, um ser totalmente a parte do médium. Temos, claramente, a interferência de uma individualidade em outra. Acontece que a entidade não entra no corpo do médium, nem tão pouco anula a individualidade que ocupa como muitos acreditam.
 
6. Se não existe anulação da individualidade do médium, queremos dizer com todas as letras que são raros médiuns inconscientes.
7. Afirmo isso, sem constrangimento nenhum, pois na acepção do conceito que se disseminou no mundo mediúnico é que na dita mediunidade inconsciente, não existe nenhuma interferência do médium, e a tão falada inconsciência ainda serve para credibilizar a manifestação mediúnica e por conseqüência o próprio médium.
8. Como não existe interferência, se o psiquismo e, portanto, a individualidade do aparelho mediúnico continua a existir e logo a se manifestar no laço médium e entidade espiritual?
 
9. Sim, é claro que evidentemente podem acontecer lapsos de memória, problemas de solução de continuidade, vazios, trechos sem definição clara, passagens desconexas e um despertar mediúnico com lembranças que mais parecem um sonho, que não se consegue recordar direito, no entanto, no exercício da mediunidade o psiquismo do médium está plenamente atuante. Afinal, a entidade precisa desse psiquismo ligado para poder atuar.
10. Em outras palavras e levando em consideração as devidas proporções, para você ler esse texto eu precisei de um software (psiquismo) chamado processador de texto, para que o computador (médium) conseguisse formatar este artigo e você (consulente) pudesse interagir comigo (entidade espiritual). Ora, eu somente pude formatar esse texto na forma, como você está lendo, com esse tipo e tamanho de fonte de letra, como essa cor etc., porque encontrei um processador de textos (psiquismo) que me permitiu fazê-lo. Um processador mais simples, talvez não me permitisse colorir o texto. Portanto, a capacidade e o conhecimento encontrado no psiquismo do médium é que possibilita à entidade a qualidade de sua manifestação.
 
11. Desenvolvimento mediúnico é nada mais, nada menos, do que proporcionar ao médium condições dele se tornar um fiel tradutor da manifestação das entidades que ele incorpora. O médium é um filtro para manifestação da entidade, quanto menos impurezas (interferências) este filtro tiver, mais fiel será a manifestação da entidade espiritual. A inconsciência, colocado sob este ponto de vista, é diretamente proporcional à capacidade de fidelização do médium para a comunicação do guia espiritual.
 
12. Outro fato, que muita gente esquece ou não percebe, é que a entidade não fala diretamente através do médium, já que não existe posse. A linguagem do espírito é o pensamento, logo a entidade transmite o seu pensamento para o psiquismo que está interagindo e o médium então catalisa essa informação e repassa para frente. Esse processo é ato contínuo e a catalisação seu principal segredo. Devemos lembrar sempre que a entidade depende do médium e de seu psiquismo e que também estamos falando de um processo sutil e delicado em que energias espirituais estão atuando como facilitadores para a prática mediúnica. Sim, próximo ou longe do seu aparelho mediúnico, a entidade realiza diversas ligações energéticas com o corpo espiritual do médium para poder tanto manifestar seus pensamentos, como para caracterizar sua personalidade espiritual.
 
13. Ao contrário do que todos pensam, o médium deve procurar estudar e ter conhecimentos suficientes para exercer a sua mediunidade, já que a entidade se utiliza desta cultura pré-existente no psiquismo do médium, inclusive dos arquivos inconscientes do mesmo (experiências vivenciadas em outras reencarnações) para formatar um diálogo fiel ao que deseja transmitir ao consulente. São evocados lembranças, conhecimento arquivados na memória, mas já esquecidos, enfim, uma gama de facilitadores que proporcionem uma sintonia fina entre entidade e médium.
14. Uma entidade espiritual, na maioria das vezes, está em um estágio evolutivo superior ao médium que incorpora se não for o caso, pelo menos está atuando em um plano menos limitador, que permite mais liberdade de ação e conhecimento. Construir uma ponte que facilite essa interação fiel, entre um psiquismo e outro é o desafio que a mediunidade impõe a ambos (médium e entidade). As dificuldades são enormes: individualidades e psiquismos diferentes, planos existenciais separados por uma barreira dimensional e distanciamento evolutivo são algumas dessas variáveis, que colaboram para transformar a mediunidade em um processo complexo, sutil e misterioso. Quanto mais potente, reforçado por conhecimentos e cultura for o psiquismo do médium, melhores serão as condições para se produzir interações de qualidade. Não é regra, mas tem seu peso e deve ser levado em consideração.
15. Ao falarmos em psiquismo, estamos usando outra forma de denominação, para o que comumente, se chama animismo. Animismo, na mediunidade é a participação da inteligência encarnada nas manifestações espirituais. Em outras palavras, é a contribuição do próprio médium no exercício da sua mediunidade. Considerado um estigma por muitos, e transformado ao extremo como mistificação, essa contribuição, como vimos é real e o espírito manifestante, precisa e faz pleno uso dessa faculdade ao qual, no meu entender, é mais bem conceituada com o termo psiquismo. Animismo/Psiquismo, não é crime de lesa mediunidade, é necessidade inerente ao processo de manifestação mediúnica. O psiquismo pode ser comparado ao períspirito da mediunidade, é a base com o qual a entidade trabalha para gerar a manifestação de seus pensamentos, desejos e vontades. É o meio que possibilita a expressão da entidade na matéria.
 
16. Um último fator que deve ser levado em conta é a famosa padronização dos processos de incorporação. Os espíritos que trabalham na corrente espiritual da Umbanda, se utilizam da roupagem fluídica de caboclos, preto-velhos e crianças, entre outros, não porque, necessariamente, um dia já foram índios, escravos e crianças, mas sim porque essas roupagens representam os arquétipos (modelos) para apresentação dos Mestres da Fortaleza (caboclos), da Pureza (crianças) e da Sabedoria (pretos-velhos). Exus/Pombas-gira, porque se faz necessário uma roupagem mais densa para cumprirem os seus papéis de agentes da justiça kármica e frenadores (repressores) de demandas e magias nos círculos espirituais em que atuam. Para se ter apenas uma idéia, todos os espíritos que se utilizam da roupagem fluídica de crianças são espíritos adultos, e que resolvem se manifestar como crianças, por terem afinidades com o trabalho e o modelo de Mestres da Pureza.
 
                                            *Fonte: Espiritualidade e Umbanda, por Caio de Omolu
 

sábado, fevereiro 08, 2014

Mediunidade Umbandista - Parte 1

        Sem dúvida nenhuma, a mediunidade ainda é um tema, que causa dúvidas e bastante polêmica entre os umbandistas. Volta e meia nos deparamos com superstições, mitos, medos, anseios, expectativas as mais diversas, de médiuns novatos e mesmo de alguns, que já possuem uma experiência mediúnica há bastante tempo.
Invariavelmente, também escutamos opiniões, declarações, testemunhos, e orientações sobre mediunidade e a sua prática, formatado por especulações, definidas por vivências pessoais e conceitos desenvolvidos através do achismo ("eu acho que...").
Muitas vezes tomamos conhecimento de médiuns que são menosprezados nos seus trabalhos mediúnicos, considerados como médiuns que estão com nada, que cometem muitas gafes ou ratas no exercício da sua mediunidade e cujo trabalho de suas entidades são assim, como que "pasteurizados", ou seja, mantém um padrão de verossimilhança com trabalhos já realizados por entidades em outros médiuns, ou na casa que o médium freqüenta.
Por maior que seja a abrangência e a difusão da mediunidade, hoje não mais reclusa aos centros espíritas e os templos umbandistas, as pessoas sempre esperam, no seu íntimo, o sobrenatural, o maravilhoso, o diferente se manifestar e atuar na prática mediúnica.
A busca pelo milagre está enraizado no inconsciente coletivo e o médium se vê transformado no milagreiro de plantão. Não só ele tem que ter êxito no que faz, mas se esse resultado puder ser acompanhado do fantástico, do inusitado e do espetacular melhor ainda.
Se a forma como os trabalhos são realizados pelas entidades, incorporadas em seus médiuns, não devem pecar pela padronização, com algo já visto ou vivenciado, o padrão já serve plenamente de fiel para se julgar o comportamento das entidades nesse médium, e por conseqüência o próprio médium. Em outras palavras, é necessário que as entidades se comportem como se espera que seja o seu comportamento.
Assim, o vocabulário, a manifestação, as ações e reações de uma entidade devem estar dentro do padrão geral, reconhecido para aquele tipo de entidade, senão o pobre médium é que leva a pior.
Vejamos o exemplo de uma entidade Criança ou Erê, como muitos denominam, existem dois padrões reconhecidos para a manifestação desse tipo de entidade: um é de criança, criança mesmo (período infantil), o outro é a criança pré-adolescente. Para cada tipo de padrão das possíveis manifestações da entidade Criança espera-se que as mesmas reproduzam o comportamento adequado. Assim, uma criança infantil, deve ser traquina, gostar de doces, balas e confeitos, falar miudinho como criança, e somente ter atitudes correlatas a qualquer criança encarnada, da idade que ela representa. As de manifestações pré-adolescentes podem ter um vocabulário maior, brincadeiras mais elaboradas, discutir alguns assuntos mais adultos.

 
Por conta desse rígido padrão de comportamento, aceito como realidade no universo umbandista, é que surgem os estereótipos, tais como, a de um médium adulto, vestido de fraldas, sentado no chão, nu da cintura para cima, com uma chupeta na boca, segurando uma mamadeira em uma das mãos e um brinquedo na outra. Ou então, encontramos médiuns femininas incorporando crianças (meninas pré-adolescentes), com o estereotipo de pomba-gira, só porque já estão entrando na fase da explosão hormonal, com certeza os hormônios, nesse caso, são os espirituais.
Seguindo essa mesma linha de padronização, o preto-velho é um escravo, que tem que falar errado o tempo todo, que certas orientações e conceitos ele jamais pode pronunciar, pois como oriundo da senzala e sem nenhuma instrução formal, ele não passa de um analfabeto e inculto. O caboclo então, nem se fala. As pombas-gira, coitadas, tem que ser todas mulheres da vida, prostitutas, que continuam a realizar as suas orgias, agora no mundo espiritual, com os exus, que além de serem o diabo em pessoa, ainda são verdadeiros garanhões.
 
Realmente, tenho que às vezes, concordar com os nossos detratores... Sim, de fato somos uma cultura de periferia, cujos adeptos são pobres, incultos, analfabetos e sem o mínimo de instrução!
Por favor, me poupem e me economizem!
Esse estado de coisas não pode mais perdurar na Umbanda. Temos que quebrar essa barreira de estagnação que habita em nosso seio e impede a compreensão do poder da Lei chamada EVOLUÇÃO.
Somos umbandistas, porque queremos nos encontrar com o Sagrado, desejamos evoluir espiritualmente, colaborar com a Obra Divina, com a formação de uma consciência planetária superior, saindo desse ciclo de provas e expiações e assumindo definitivamente a nossa cidadania espiritual universal.
Não podemos e nem devemos mais continuar a repassar mitos e lendas, estórias da carochinha, conversas para boi dormir, o saci, o capeta e a fada do dente. Não devemos mais nos render aos vícios de comportamento, nem a crenças dogmáticas.
A Umbanda está muito além do movimento umbandista, e esse se perde no emaranhado de sua estaticidade produzida, por nós mesmos, os que se dizem umbandistas e que deveriam ter um sério compromisso com o estudo doutrinário, a ciência, a filosofia e os conceitos religiosos existentes na nossa religião e propagados pelo mundo espiritual através das entidades trabalhadoras afins.
 
                                             *Fonte: Espiritualidade e Umbanda, por Caio de Omolu



 
 

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Quotidiano Umbandista - Umbanda Traz Felicidade


Na vida religiosa umbandista, onde cumprir a missão espiritual como médium é muito importante, e caminhar para a evolução espiritual através desse trabalho de auto-ajuda e caridade aos necessitados só nos ajuda a nos tornar pessoas melhores passamos por momentos de grande felicidade e também de tristeza.

Infelizmente as pessoas sempre dão maior importância para aquilo de ruim que acontece na vida, sempre nos lembramos de doenças, decepções, problemas de família, brigas, violência e pessoas maldosas, isso também ocorre com os médiuns umbandistas.

Nossa vida dentro da religião é tão intensa, tão cheia de emoções e momentos de satisfação, mas quando se fala da vida religiosa quase sempre os relatos são de decepções, discussões e reclamações. Será que até religiosamente só damos espaço na memória para aquilo que nos entristece?

É tão bonito ouvir alguém dizer que ama a Umbanda, que dedicou sua vida toda a esta maravilhosa religião e que esta só lhe trouxe felicidade, satisfação e crescimento. Mas porque são tão raros estes relatos?

Numa sociedade onde ter é preciso e quem tem mais é respeitado, onde o dinheiro faz as pessoas esquecer qualquer ensinamento divino e espiritual é louvável encontrar quem ainda pratique a Umbanda por amor e não por dinheiro.

É muito bonito falar uma frase dessas, mas muitos ouvem e retrucam: “De que adianta passar a vida se dedicando a religião e continuar pobre, sem ter nada na vida, sem ter liberdade, enquanto outras pessoas são muito bem de vida”. Pensem, por que dedicação à religião está ligada com pobreza? Muitos acham que se dedicar a Umbanda é ficar em casa o dia todo atendendo gente e passar fome. Você pode e deve se dedicar a Umbanda sem deixar de trabalhar, constituir família, ter amigos, ter lazer e claro, conquistar coisas que lhe tragam conforto e não soberba. Quem vive da religião deve saber porque vive da religião, deve ter o seus motivos, da mesma forma que quem tem trabalho fora de casa procura conciliar seu tempo e levar tudo de forma dosada e correta.

Sacerdote “rico” é respeitado, mas pelas costas todos comentam que vive de fazer trabalhos caríssimos e que explora as pessoas financeiramente em nome da religião, é correto? Falar da vida alheia não é correto mesmo, lembram-se dos ensinamentos divinos? Agora se o Sacerdote faz isso ou não, ele Sacerdote que é deve saber o que esta fazendo.

Não seria muito melhor lembrarmos da energia maravilhosa que sentimos quando estamos diante de um Orixá incorporado? Da ternura e compaixão que sentimos na presença dos Pretos Velhos e das Crianças? Daquela força que emana de um Exu, de um Caboclo, de um Baiano, aquela força que faz arrepiar os pelos dos braços? Com certeza você agora que está lendo isso já sentiu isso muitas e muitas vezes não é?

Então a partir de hoje quando você falar da Umbanda ressalte esses momentos, mostre através das palavras que você ama esta religião, a sua religião!

Meu Axé a todos. Salve a Umbanda!
 
 
O Jornal Tambor foi uma das publicações direcionadas à religiões afro-descendentes mais importantes no início dos anos 2000. Criado e idealizado pela Yalorixá Sandra Epega o jornal sempre pregou pelo diálogo inter-religioso, cultura de paz e sempre deu espaço para todos as tradições religiosas.
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
O blog Aldeia do Sultão acha pertinente trazer de volta alguns do textos publicados ao invés de deixa-los guardados num arquivo de computador ou numa gaveta.