sábado, fevereiro 08, 2014

Mediunidade Umbandista - Parte 1

        Sem dúvida nenhuma, a mediunidade ainda é um tema, que causa dúvidas e bastante polêmica entre os umbandistas. Volta e meia nos deparamos com superstições, mitos, medos, anseios, expectativas as mais diversas, de médiuns novatos e mesmo de alguns, que já possuem uma experiência mediúnica há bastante tempo.
Invariavelmente, também escutamos opiniões, declarações, testemunhos, e orientações sobre mediunidade e a sua prática, formatado por especulações, definidas por vivências pessoais e conceitos desenvolvidos através do achismo ("eu acho que...").
Muitas vezes tomamos conhecimento de médiuns que são menosprezados nos seus trabalhos mediúnicos, considerados como médiuns que estão com nada, que cometem muitas gafes ou ratas no exercício da sua mediunidade e cujo trabalho de suas entidades são assim, como que "pasteurizados", ou seja, mantém um padrão de verossimilhança com trabalhos já realizados por entidades em outros médiuns, ou na casa que o médium freqüenta.
Por maior que seja a abrangência e a difusão da mediunidade, hoje não mais reclusa aos centros espíritas e os templos umbandistas, as pessoas sempre esperam, no seu íntimo, o sobrenatural, o maravilhoso, o diferente se manifestar e atuar na prática mediúnica.
A busca pelo milagre está enraizado no inconsciente coletivo e o médium se vê transformado no milagreiro de plantão. Não só ele tem que ter êxito no que faz, mas se esse resultado puder ser acompanhado do fantástico, do inusitado e do espetacular melhor ainda.
Se a forma como os trabalhos são realizados pelas entidades, incorporadas em seus médiuns, não devem pecar pela padronização, com algo já visto ou vivenciado, o padrão já serve plenamente de fiel para se julgar o comportamento das entidades nesse médium, e por conseqüência o próprio médium. Em outras palavras, é necessário que as entidades se comportem como se espera que seja o seu comportamento.
Assim, o vocabulário, a manifestação, as ações e reações de uma entidade devem estar dentro do padrão geral, reconhecido para aquele tipo de entidade, senão o pobre médium é que leva a pior.
Vejamos o exemplo de uma entidade Criança ou Erê, como muitos denominam, existem dois padrões reconhecidos para a manifestação desse tipo de entidade: um é de criança, criança mesmo (período infantil), o outro é a criança pré-adolescente. Para cada tipo de padrão das possíveis manifestações da entidade Criança espera-se que as mesmas reproduzam o comportamento adequado. Assim, uma criança infantil, deve ser traquina, gostar de doces, balas e confeitos, falar miudinho como criança, e somente ter atitudes correlatas a qualquer criança encarnada, da idade que ela representa. As de manifestações pré-adolescentes podem ter um vocabulário maior, brincadeiras mais elaboradas, discutir alguns assuntos mais adultos.

 
Por conta desse rígido padrão de comportamento, aceito como realidade no universo umbandista, é que surgem os estereótipos, tais como, a de um médium adulto, vestido de fraldas, sentado no chão, nu da cintura para cima, com uma chupeta na boca, segurando uma mamadeira em uma das mãos e um brinquedo na outra. Ou então, encontramos médiuns femininas incorporando crianças (meninas pré-adolescentes), com o estereotipo de pomba-gira, só porque já estão entrando na fase da explosão hormonal, com certeza os hormônios, nesse caso, são os espirituais.
Seguindo essa mesma linha de padronização, o preto-velho é um escravo, que tem que falar errado o tempo todo, que certas orientações e conceitos ele jamais pode pronunciar, pois como oriundo da senzala e sem nenhuma instrução formal, ele não passa de um analfabeto e inculto. O caboclo então, nem se fala. As pombas-gira, coitadas, tem que ser todas mulheres da vida, prostitutas, que continuam a realizar as suas orgias, agora no mundo espiritual, com os exus, que além de serem o diabo em pessoa, ainda são verdadeiros garanhões.
 
Realmente, tenho que às vezes, concordar com os nossos detratores... Sim, de fato somos uma cultura de periferia, cujos adeptos são pobres, incultos, analfabetos e sem o mínimo de instrução!
Por favor, me poupem e me economizem!
Esse estado de coisas não pode mais perdurar na Umbanda. Temos que quebrar essa barreira de estagnação que habita em nosso seio e impede a compreensão do poder da Lei chamada EVOLUÇÃO.
Somos umbandistas, porque queremos nos encontrar com o Sagrado, desejamos evoluir espiritualmente, colaborar com a Obra Divina, com a formação de uma consciência planetária superior, saindo desse ciclo de provas e expiações e assumindo definitivamente a nossa cidadania espiritual universal.
Não podemos e nem devemos mais continuar a repassar mitos e lendas, estórias da carochinha, conversas para boi dormir, o saci, o capeta e a fada do dente. Não devemos mais nos render aos vícios de comportamento, nem a crenças dogmáticas.
A Umbanda está muito além do movimento umbandista, e esse se perde no emaranhado de sua estaticidade produzida, por nós mesmos, os que se dizem umbandistas e que deveriam ter um sério compromisso com o estudo doutrinário, a ciência, a filosofia e os conceitos religiosos existentes na nossa religião e propagados pelo mundo espiritual através das entidades trabalhadoras afins.
 
                                             *Fonte: Espiritualidade e Umbanda, por Caio de Omolu



 
 

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