COMO NASCE UM TERREIRO DE UMBANDA
Para explicar melhor este tema, vou
contar uma breve história fictícia, mas que ocorre em muitas ocasiões.
Geralmente , o adepto de hoje da
Umbanda é aquela pessoa que depois de passar por médicos, curandeiros, pastores,
padres, adivinhos, gurus e outros tantos, encontra alguém que lhe sussurra ao
ouvido:
- Eu conheço uma Mãe de Santo que vai
resolver a sua vida.
Pacientemente, ele vai, com muita
desconfiança, ao terreiro e ao chegar, encontra várias pessoas vestidas de branco
e quase pensa que foi levado a um hospital, pois está diante de enfermeiros.
Passado um pouco, ele ouve os
atabaques soarem e tem “inicio” uma cantoria”, totalmente desconhecida para
ele.
Depois de ouvir alguns cânticos,
algumas pessoas vestidas de branco se ajoelham, batem no peito e soltam um
grito longo e estridente; outras se abaixam como tivessem muita idade.
Nesse momento, ele está muito confuso
e pensa que foi parar num manicômio. Sente uma vontade enorme de se ir embora,
mas alguém o chama e resolve entrar.
Alguém lhe diz:
- Venha falar com o Preto Velho.
-Com quem? Pergunta ele, sem entender
nada do que se passa á sua volta.
- Com o “Pai João”, - esclarece a
pessoa vestida de branco.
Ele olha para a frente, e para os
lados do terreiro, e fala:
Não vejo nenhum Preto Velho, - nem
vai ver, responde a pessoa de branco – ele está incorporado na “Mãe
Laurentina”, o chefe do terreiro.
- Venha, ele está á sua espera.
Ele, então, ajoelha-se à sua frente,
em um banquinho de madeira, e leva logo com uma baforada de cachimbo na cara.
Não consegue entender nada do que fala a entidade, pois é um tal “mi zi fio” e
“mi zi fio” para cá e para lá, e nada......não entende nada mesmo. Finalmente,
um Cambono percebe o embaraço em que se encontra e, traduz tudo aquilo que o
Preto Velho falou.
Após alguma conversa com a entidade,
ele fica a saber que é médium e que necessita de se vestir de branco para
começar a trabalhar no terreiro. Se ele for uma pessoa vaidosa, vai pensar:
“Que bom, sou médium”. Mas se é uma
pessoa humilde, pensa: “E agora? O que é que eu faço com isto?”
Mais tarde, o cambono explica-lhe
que, ao começar a trabalhar no terreiro, a sua vida irá melhorar gradualmente.
Como ele já passou por vários lugares
e nada mais tem a perder, concorda com a idéia e, na semana seguinte, já
começam os seus trabalho de Desenvolvimento Mediúnico.
Após algum tempo de trabalho
espiritual, tal como cambonear as Entidades, e desenvolvendo a sua mediunidade,
ele sente a sua vida mais equilibrada e quando menos espera ajoelha-se, bate no
peito e grita. Ocorre nesse momento, a sua primeira incorporação. Passa o tempo
e ele servindo de “cavalo” às suas entidades, começa a aprender o porquê da
ritualística, e começa a entender melhor a Doutrina Umbandista.
Num tempo inesperado, realiza o
grande ritual do Bori e assenta as suas Entidades e começa a dar consultas e
passes mediúnicos.Cada vez mais, as suas Entidades são procuradas pelos
assistentes. Começa então o seu maior problema; os ciúmes de alguns médiuns mal
preparados mental e espiritualmente.
Um dia, um desses Médiuns, chega ao
pé da Mãe de Santo e diz: “Ele está a querer o teu lugar”.
A mãe de Santo determina, então muito
democraticamente: “ A partir de hoje, cada médium só pode dar três consultas”.
A situação torna-se cada vez mais complicada e totalmente insustentável e um
dia ele pega na imagem da sua entidade e, se depara que está fora do terreiro.
Vai para casa, coloca a imagem em
cima do armário do seu quarto e, se é mulher, deita-se e chora a noite inteira;
se é homem, fala meia dúzia de palavrões, jura que nunca mais volta a
incorporar e pensa que os seus problemas acabaram. Grande Engano: é aí que eles
começam.
Alguns assistentes que se consultavam
com as suas Entidades ficam preocupados com a sua ausência e começam a indagar
o seu paradeiro.
Alguém chega a estas pessoas e diz:
”Olha, ele não trabalha mais aqui, mas sei aonde ele mora”. Começa então uma
romaria a casa do médium e essas pessoas pedem-lhe que os ajude, pois estavam a
ser consultadas pelas suas Entidades e os trabalhos ficaram pela metade. Pedem
então que o médium incorpore pelo menos uma vez para terminar o trabalho que
tinha sido começado.
O médium tira a imagem de cima do
armário e, ali mesmo, na sala ou na cozinha, incorpora as Entidades para
atender aquelas pessoas.
A procura pelo médium torna-se cada
vez mais intensa e os trabalhos passam a ser realizados na garagem. Nessa
altura, alguém mais preocupado diz: “Vamos abrir legalmente um terreiro antes
que a polícia nos prenda”. Está funcionando mais um terreiro de umbanda com
seus novos adeptos.
Quando o terreiro é bem dirigido,
cresce material e espiritualmente, aumentando cada vez mais o número de
médiuns, cambonos e assistentes. Se o terreiro não é bem dirigido, dará origem
a novos médiuns descontentes, que possivelmente, originarão outros terreiros.
Esse é um dos motivos do crescimento
da Umbanda, muitas vezes de forma desordenada, muitas vezes sem a devida
preparação de seus dirigentes.
E sem entender nada, a sua missão
estava realmente a começar......!
Texto extraído do livro "Iniciação
á Umbanda" de Ronaldo Antonio Linares, Diamantino Fernandes Trindade e
Wagner Veneziani costa - Editora Madras