“Respeitável
público” ou “E agora com vocês...” poderia ser a forma de ser anunciada algumas
giras em algumas casas.
Um médium vai
sair de casa hoje, é Sábado à noite e uma enormidade de terreiros está dando
toque.
São tantas
casas e tantos horários que poderia ser feito um itinerário, e ele já sai de
casa pensando nisso. O toque da casa a qual ele pertence é durante a semana e
não parece ser suficiente, e no Sábado ele precisa aumentar sua carga horária
de incorporação. Sente a necessidade de por onde passar declarar a todos os
presentes que ele é do Santo.
Sua primeira
parada é perto de casa, gira de Caboclo, não tem problema, debaixo da jaqueta a
camisa branca e debaixo da camisa um fio de contas, isso não pode faltar.
É só entrar
para um passe e lá se vão vinte minutos de apresentação, com direto a fumar e
beber as custas da casa. Encerrado o primeiro ato, ruma para a próxima casa e
que ótima surpresa, a gira é de Exu. Agora merece uma produção maior, o suposto
compadre chega lá fora, afinal chamará mais a atenção, e aí se vão quarenta
minutos de demonstração de um médium firme que sabe o que faz.
Mesmo cansado
não tem porque parar, no próximo palco, digo, terreiro está os Baianos e é a
vez de cantar e dar palpites. E vamos em frente que ainda não passa das onze, e
tem muita personagem, digo, entidade para passar.
Normalmente
acompanhado de um irmão, hoje está sozinho, mas não menos entusiasmado, não vai
deixar a oportunidade passar.
Talvez, com
esse acúmulo de milhagem espiritual ele cumpra a missão dele antes de mim.
Será?
Meu Axé a todos. Salve a Umbanda! 28
/ 08 / 2002
O Jornal Tambor foi uma das publicações direcionadas à religiões afro-descendentes mais importantes no início dos anos 2000. Criado e idealizado pela Yalorixá Sandra Epega o jornal sempre pregou pelo diálogo inter-religioso, cultura de paz e sempre deu espaço para todos as tradições religiosas.
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
O blog Aldeia do Sultão acha pertinente trazer de volta alguns do textos publicados ao invés de deixa-los guardados num arquivo de computador ou numa gaveta.