segunda-feira, abril 08, 2013

Quotidiano Umbandista - O Limite da Caridade


                Chega mais um dia de trabalho espiritual, os médiuns vão chegando e se arrumando, assim como a Mãe-de-Santo que já tem tudo pronto, todos tomam seus lugares e dá-se início a gira.

            Os Orixás chegam dançando, e dançando vão embora. Os Caboclos chegam dando seus gritos característicos, logo dão início a prática da caridade.

            Da assistência sai uma senhora, é sua primeira vez na casa, direciona-se ao Caboclo e conta o que lhe aflige, o Caboclo lhe receita um descarrego e ela logo se dispõe a fazê-lo. A senhora espera o fim da sessão e vai falar com a Mãe-de-Santo, que lhe indica o dia e horário para que o descarrego seja feito.

            No dia combinado e no horário também, a Mãe-de-Santo, um Cambone e um filho da casa aguardam por vinte minutos até a chegada da senhora que inclusive reclama do local onde parou o carro.

            O descarrego é preparado, usa-se vela, pólvora, pemba, todos ingredientes do próprio terreiro, a senhora nada trouxe, tudo é feito conforme determinou o Caboclo, encerrado tudo a senhora diz “Até logo” e sai, é daquelas que não vai mais voltar, não agradeceu, não pagou e nem mesmo irá lembrar do rosto do Caboclo que lhe ajudou quando seu martírio passar.

            “— O papel a mim confiado pelos Orixás foi feito, o dela, ela ainda irá descobrir”. Diz a Mãe-de-Santo vendo o espanto de seus médiuns perante a situação.

            Meu Axé a todos, Salve a Umbanda!                                        17 / 06 / 2002
 
 
O Jornal Tambor foi uma das publicações direcionadas à religiões afro-descendentes mais importantes no início dos anos 2000. Criado e idealizado pela Yalorixá Sandra Epega o jornal sempre pregou pelo diálogo inter-religioso, cultura de paz e sempre deu espaço para todos as tradições religiosas.
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
O blog Aldeia do Sultão acha pertinente trazer de volta alguns do textos publicados ao invés de deixa-los guardados num arquivo de computador ou numa gaveta.

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