De postura e comportamento
exemplares, uma senhora moradora do sobrado verde, passa todos os dias
religiosamente no mesmo horário para ir à igreja evangélica.
É tida pelos vizinhos como a
obreira mais fervorosa da região. E fazia por merecer, não abria mão da saia
comprida e da bíblia embaixo do braço por onde ia.
Um simples bom – dia era motivo
para uma sessão de evangelização. Falar em “macumba” para ela então era motivo
para gritos de louvor e demonstração pública de discriminação religiosa.
Mas alheios às proibições da
igreja, os filhos da distinta senhora, uma menina de dez anos e um menino de
oito, não pensaram duas vezes para ir com seus amigos à festa de Cosme e Damião
do terreiro que fica a um quarteirão dali.
Vale dizer que a festa de
Cosme e Damião se tornou um evento em separado da Umbanda, e a distribuição de
doces e bolos contribuem para que membros de outras religiões freqüentem os
terreiros durante as festas sem que se sintam constrangidos.
Claro que não demorou a mãe
dar pela falta de seus filhos, e logo descobriu seus paradeiros. Imediatamente
foi ao terreiro, e mesmo hesitante adentrou ao salão que estava tomado de
gente, repleto de balões e com o som dos atabaques regendo a festa.
Não pôde deixar de notar que
os médiuns estavam todos incorporados com suas crianças e muito menos de sentir
a vibração do local que lhe fazia suar as mãos.
A senhora caminhou até seus
filhos que estavam próximos aos Cósminhos e um deles segurou sua mão, mas antes
que ela a soltasse, uma força enorme e assustadora tomou seu corpo fraquejando
suas pernas e fazendo-lhe cair. Os Cósminhos aplaudiram e daí em diante pode-se
imaginar o resto.
Abaladíssima, após a
desincorporação a senhora pegou seus filhos e as pressas deixou o terreiro a
não foi mais vista por ali.
Pode ter achado que um
espírito ruim tenha tomado seu corpo e correu para a igreja.
Mas os que ali estavam
durante a festa, garantem que aquela senhora daria uma médium daquelas que não
se vê em toda casa tamanha foi à firmeza e entrega à entidade.
Quem sabe àquela senhora, em
casa, tenha parado por um momento e pensado no que aconteceu. E isso a faça ao
menos mudar sua visão em relação a Umbanda.
Meu Axé a todos. Salve a
Umbanda! 31 / 08
/ 2002
O Jornal Tambor foi uma das publicações direcionadas à religiões afro-descendentes mais importantes no início dos anos 2000. Criado e idealizado pela Yalorixá Sandra Epega o jornal sempre pregou pelo diálogo inter-religioso, cultura de paz e sempre deu espaço para todos as tradições religiosas.
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
O blog Aldeia do Sultão acha pertinente trazer de volta alguns do textos publicados ao invés de deixa-los guardados num arquivo de computador ou numa gaveta.
Nosso irmão e colaborador do blog, Thiago Sá foi colunista do jornal por quase três anos e sua coluna, Quotidiano Umbandista descrevia situações corriqueiras ao dia a dia dos templos umbandistas. Sempre descritas como ficção.
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